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  • MITSY QUEIROZ - PRELÚDIOS DA IMAGEM #01

    Artista visual, fotógrafo, pesquisador e arte/educador, Mitsy Queiroz (Recife - PE, 1988) conversa com Guilherme Moraes, curador da Propágulo, sobre sua poética e seus processos de criação a partir da linguagem fotográfica. Quais são as aproximações possíveis entre fotografia e corpo? O que seria desviar dentro do que está estabelecido dentro das normas hegemônicas desses dois universos? Como jogar com o controle e o inesperado dentro da experimentação fotográfica? E se a imagem produzida não corresponder às expectativas canônicas do que deve vir a ser uma boa fotografia? Mitsy Queiroz tensiona a falha enquanto joga com os recursos analógicos e digitais da fotografia que produz. Prelúdios da Imagem é uma série de vídeos realizada pela Propágulo com o objetivo de expandir debates e conversas com diferentes agentes da cadeia artística. A primeira temporada conta com 3 episódios, nos quais participam Mitsy Queiroz, Aoruaura e Clara Moreira.

  • O TEMPO DO JARDIM É O TEMPO DO OUTRO

    Vencedor da Ciranda Fotográfica no 9º Pequeno Encontro da Fotografia, o projeto (EM)Transição – Pesquisa cultural em fotografia e agroecologia" estabelece como mote os valores coletivos e a defesa da autossustentabilidade social . '(EM)TRANSIÇÃO' - Agroecologistas Antônio e Célia junto ao biodigestor em Bonito (PE), antotipia de casca de cebolas roxa, maio de 2023 Descortinar o processo de construção de um projeto fotográfico é poder vislumbrar, em suas nuances políticas e estéticas, os encontros transformadores e pontos de inflexão que traçaram o seu desenvolvimento. Contrário ao usual caminho seguido por trabalhos vencedores em competições, nos quais a autoria é atribuída a uma mente criadora, ao ganhar a premiação da Ciranda Fotográfica no 9º Pequeno Encontro da Fotografia, o projeto (EM)Transição – Pesquisa cultural em fotografia e agroecologia reforçou a fotografia enquanto uma experimentação anti hierárquica e sensível. Intitulado Ação coletiva e agroecologia: os caminhos da mobilização social para a construção de uma política pública municipal em Bonito/PE, trabalho da tese de doutorado de Paulo José de Santana, não só analisou o processo de construção da política pública da cidade pernambucana, a partir das estratégias de transição agroecológica e da ação coletiva, como também “acendeu a fagulha inicial do projeto fotográfico”, explica o pesquisador e participante do (EM)Transição. Por meio de um diálogo robusto de reflexões, atravessadas ocasionalmente por funções fáticas da linguagem, como só uma sessão virtual no Meet pode proporcionar, a entrevista da Propágulo com alguns dos colaboradores do projeto vencedor da Ciranda Fotográfica¹ — a agricultora agroecológica Fábia Lima, a produtora Lara Bione, os fotógrafos Danilo Galvão e Roberta Guimarães, e o pesquisador agroecológico Paulo José de Santana —  expõe a potência existente na feitura de um projeto composto por muitas mãos. No Agreste pernambucano, uma sub-região de modificação entre a Zona da Mata e o Sertão do Nordeste, está situado o município de Bonito. Foi neste território que já compreende em seu firmamento as mutabilidades geográficas onde o projeto (EM)Transição encontrou solo fértil para o seu desenvolvimento. ¹ Realizada pela primeira vez nesta 9ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia, a Ciranda Fotográfica contempla obras em formatos diversos, tais como ensaios e fotolivros. A ideia é que pessoas e coletivos apresentem suas obras, selecionadas por meio de convocatória, para a curadoria do festival em sessões de pitching que podem durar até 15 minutos. (EM)TRANSIÇÃO - Antotipia de extrato de cascas de cebola dourada O projeto começou a ser construído a partir do primeiro encontro do grupo, que aconteceu em 8 de abril de 2021. À época, os colaboradores Danilo Galvão, Lara Bione e Fábia Lima faziam parte da formação em processos de mobilização e acompanhamento na agricultura familiar e agroecológica, ministrada por Paulo Santana. Juntos, em uma roda de conversa, entenderam que o melhor caminho para a apresentação de um projeto que discutisse a experiência de transição agroecológica, a nível de uma cidade, seria pela fotografia. Processos fotográficos alternativos Fotos da esquerda para direita: Antotipia com Flor de Bougainville, antotipia com extrato de caiuia e fitotipia com a agroecologista Joelma Elegendo a mudança como mote do projeto, sendo o mesmo entrecortado constantemente por estados de transição, o fotógrafo Danilo Galvão sugeriu que a antotipia e a fitotipia, processos fotográficos que envolvem a utilização de pigmentos vegetais como material fotossensível, guiassem este trabalho artístico. Assim, encontrou no trabalho de Roberta Guimarães pontos em comum com o desejo que lhe movia. “Eu nunca tinha trabalhado com a técnica, mas acredito que ela, além de aproximar a botânica da fotografia, também permite um processo de contemplação da imagem enquanto resgate de identidade territorial. Me lembrei então de uma apresentação de Roberta sobre o projeto Árvore da Palavra, na 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia, e a convidei para participar da iniciativa conosco”, relembra. Efêmera e imprevisível, a antotipia é uma técnica à qual a fotógrafa Roberta Guimarães já estava familiarizada, mas que, ao longo do desenvolvimento do projeto, foi se aprofundando ainda mais nas suas nuances imprevisíveis. “Enquanto estávamos no sítio de Fábia, experimentando com a técnica, íamos notando as diferenças no processo de impressão — o urucum quando está mais fresco, por exemplo, funciona de uma forma. Quando está velho, já não fica tão bom. A gente descobriu a caiuia, uma frutinha dada aos peixes da região, que traz uma cor bem interessante, mesmo não sendo um estrato tão conhecido. São processos de transição, não se sabe o que vai acontecer com a obra”. “Estamos muito acostumados com os processos instantâneos e registros imediatos que as redes sociais nos possibilitam, tudo já está pronto. Em contraste, existe ali na feitura da antotipia e fitotipia um processo de contemplação, de calmaria.” (EM)Transição Imersão agroecológica Parte da Associação Vida Agroecológica, Fábia Lima conta que foi em uma das reuniões mensais dos agricultores, situadas no Mercado da Vida, um estabelecimento organizado por processos autogestionários de mais de vinte famílias agricultoras do município, que a equipe de (EM)Transição veio apresentar o projeto aos trabalhadores e contemplá-los com a participação na iniciativa. “Por votação, eu fui escolhida para ser a articuladora local”, conta a agricultora. A casa de Fábia Lima foi um dos onze sítios de agricultores da Associação visitados para os momentos de imersão no projeto. “Os participantes do projeto estavam naquele espaço para fazer as pesquisas das plantas, medicinais e nativas, que poderiam ser usadas no processo de antotipia e fitotipia. Além dessas imersões, entre março e junho deste ano, sempre às sextas, que é o dia usual da feira, tinham oficinas lá no Mercado da Vida onde os agricultores podiam participar, mas dessa vez para aprender a técnica”. O coletivo e a apropriação da linguagem A experiência fez confluir a vivência coletiva dos agricultores com a apropriação da linguagem fotográfica ecológica. Marcado por um exercício de escuta e sensibilidade, o processo também reforçou a contribuição da imagem para a construção da identidade local, como bem relembra Danilo ao contar a história de Seu Luís, um dos agricultores da Associação. “Montamos um pequeno estúdio no Mercado para poder fotografar as atividades e os participantes. Lembro que ele, com os seus 70 anos de idade, dizia que ‘era amostrado, porque ninguém é invisível e todo mundo já nasceu pra ser visto’. Esse entendimento, mesmo que simples, me marcou muito e nos acompanhou ao longo do projeto. Estamos ajudando a nós mesmos a construir uma identidade, uma imagem sobre quem somos a partir desses registros”. (EM)Transição - antotipia com extrato de urucum Para Paulo, a residência conseguiu, ao se apropriar das técnicas fotográficas alternativas, encontrar formatos coerentes com a agroecologia, não só para dar visibilidade a essa temática, mas para permitir uma troca acessível com os participantes. “A beleza do projeto está na facilidade da réplica, já que não é um processo que requer muito em termos financeiros. Isso já contribui para democratizar a experiência e não distanciar as pessoas do processo”. (EM)Transição – Pesquisa cultural em fotografia e agroecologia não só se debruça sobre a paisagem, compreendendo de que forma esse território se modifica a partir da ativação do sujeito, como também convoca esse sujeito, seja um agricultor no campo, que implementa diariamente as ecotecnologias sociais, ou fotógrafos vencedores em premiações, a pensar a imagem para além de um meio de registro, comunicação e criação, mas como espaço de salvaguarda da memória ambiental.

  • CLARA MOREIRA - PRELÚDIOS DA IMAGEM #03

    Clara Moreira (Recife, PE, 1984), artista que utiliza o desenho como escrita poética e artesania do corpo, conversa com Guilherme Moraes, curador da Propágulo, sobre suas últimas trajetórias e produções artísticas. De que maneira o desenho está inscrito em seu corpo? Quais gramáticas possíveis de desdobram de uma poética focada nesse gesto pictórico? O processo de Clara Moreira acontece enquanto contínuo exercício de aproximação entre corpo e desenho, e do arquivamento do gesto performático através desta linguagem. O resultado é um ponto de encontro peculiar entre o onírico e a própria fisicalidade dos materiais que com ela interagem. Prelúdios da Imagem é uma série de vídeos realizada pela Propágulo com o objetivo de expandir debates e conversas com diferentes agentes da cadeia artística. A primeira temporada conta com 3 episódios, nos quais participam Mitsy Queiroz, aoruaura e Clara Moreira. Este projeto foi incentivado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura - FUNCULTURA, da FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Pernambuco.

  • EM DEFESA DA ARTE CEARENSE

    "A arte é criação de mundos. Registros do cotidiano. Paisagens. Retratos. Acontecimentos históricos. Representações da realidade social, afetiva e ancestral. Expressões da subjetividade. Realidades abstratas, materiais, imateriais, concretas, conceituais, sensíveis e impossíveis. Os mundos da arte nos ensinam que existem outras realidades para além daquela que estávamos acostumades a consumir através de uma ótica euroreferenciada e higienizada, e nos convidam a vivenciar outras experiências possíveis construídas por pessoas distintas em toda a pluralidade e diversidade existente nas dimensões territoriais deste país. A exposição “Se arar”, em cartaz na Pinacoteca do Ceará, busca apresentar a arte cearense em sua multiplicidade ética, étnica, estética e política. Enquanto uma exposição coletiva, ela nos mostra que mundos tão diferentes podem conviver juntos e, assim, nos inspira a construir uma democracia baseada na diferença e nas políticas de vizinhança sensível. Construindo um ecossistema onde corpos e cosmovisões singulares se afetam e confluem para um universo plural, no qual a hierarquização e a monocultura do saber já não possuem espaço. Por isso, participam artistas de diferentes gerações, territórios e corpos que juntes constituem uma comunidade de obras e existências que percorrem todos os afluentes dos territórios cearenses. É importante destacar que os recentes ataques às obras da exposição “Se arar” estão sendo destinados a obras muito específicas, aquelas produzidas por artistas negres, mulheres e LGBT+, grupos sociais historicamente minorizados, saqueados e esvaziados de sua complexidade de elaboração artística, cultural, filosófica, linguística e espiritual, numa sociedade erguida sob o padrão de vida hegemônico que quer eliminar tudo aquilo que não for reflexo do seu espelho esbranquiçado. Existem outros nomes para esses ataques: retrocesso, preconceito e racismo estético. A curadoria da exposição “Se arar” reivindica o direito à imaginação e defende que toda obra em sua construção poético/conceitual, todas as identidades e a comunidade da arte cearense, bem como o público visitante, possam conviver na diferença, sem exclusão e sem esvaziamento dos debates políticos suscitados por todas as pessoas que trabalham com arte, curadoria, mediação, pesquisa, educação e demais presenças fundamentais que trabalham diariamente para que o acesso e o entendimento sobre arte, poéticas, processos e procedimentos artísticos sejam cada vez mais acessíveis e inclusivos. Essa foi e continua sendo a força motriz para a criação dessa exposição, que é sobretudo um grande ajuntamento da potência e preciosidade da arte brasileira, e não apenas cearense. Nos solidarizamos a todes artistas que compõem a exposição e que tiveram as suas obras atacadas, descontextualizadas e os seus direitos morais, intelectuais e imagéticos violados. A arte também pode causar estranhamento em quem a experimenta, e esse sentimento pode ser o germe de um novo mundo nascendo. Se arar, o que dá?" 9 de fevereiro de 2024 Um dia quente, Ceará Adriana Botelho, Cecília Bedê, Herbert Rolim, Lucas Dilacerda e Maria Macêdo Curadoria da exposição “Se arar”

  • PISTAS DE EPIFANIAS

    Por meio de um sincretismo que percorre desde a sua expressão como grafiteiro, seguindo até a presença da sua ancestralidade, que também se reverte em pintura, a linguagem artística de Bozó Bacamarte apresenta narrativas populares do Nordeste, através de representações gráficas inspiradas nas técnicas de xilogravura. A produção visual do pernambucano é discutida em "Pistas de Epifanias", texto publicado na exposição Seis Paisagens na Galeria Marco Zero, com curadoria de Guilherme Moraes, e agora disponível no editorial da Propágulo. A chave do caminho e os sete pontos firmados, 2023 Acrílica sobre tela 120 x 100 cm I “Oh lelê dona Chica…” entoava em alto e bom som o palhaço de perna-de-pau. “Mexe a canjica!”, respondia o grupo de crianças que o seguiam, saltitantes, pela rua. Uma delas era Bozó Bacamarte (Recife - PE, 1988). “Hoje tem espetáculo?”, perguntava o homem cambaleante, anunciando a chegada do circo que se armava no terreno próximo ao cemitério. “Tem, sim, senhor!” Gritavam todos, eufóricos, naquele ano de 1994. Carnaval, Acrílica sobre Eucatex, 2023 II Certa vez, Bozó acompanhou seu pai a uma visita a Tia Cecília, parenta da família. Recorda-se do fascínio que sentiu ao observar, em sua mesa, representações de entidades distintas das que costumava encontrar em um universo católico, ao qual era, até então, mais familiarizado. Enquanto fitava figuras mais irreverentes e coloridas do que as que já conhecia, escutava, ao longe, o som de alguma cantiga na voz de Cecília ritmada por um maracá. Essas imagens e sons ficariam gravados em sua memória, assim como o cheiro de fumo queimado há pouco no cachimbo de sua tia “espírita”. Galo de Demanda, 2022, Acrílica sobre tela, 70 x 50 cm III Ainda é possível ver alguns dos primeiros grafites e pixos monocromáticos produzidos por Bozó nos muros que recortam Recife e Olinda. Características por aludirem ao entalhe farpado da madeira, próprios da xilogravura, tais propostas já delineavam uma série de interesses que viriam a ser burilados ao longo da produção do artista. Anos depois, a tela se somaria a uma prática de produção imagética que sempre fora, afirma Bacamarte, pintura. Nesse novo meio, ao invés de seus personagens medirem duas, cinco, dez vezes seu tamanho, como nos murais que ainda produz, passariam a figurar a partir do artifício da redução — por meio do qual o artista se tornou capaz de interligar conjuntos cada vez maiores de cenas em simultaneidade. Detalhe de Galo de Demanda, 2022, Acrílica sobre tela, 70 x 50 cm IV Foi em 2005, em uma aula de campo no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), que Bozó se deparou com as gravuras do pernambucano Gilvan Samico. Estas, passariam a ser referência direta para o seu trabalho. À sua maneira, Bacamarte atualiza a plasticidade e alguns dos preceitos do Movimento Armorial em suas telas, mas seria redutor localizar o movimento como única lente para a leitura de sua obra, sendo este o pontapé de uma grande epifania que viria a se tornar a força motriz de sua identidade artística. Os três Guardiões e o Cavalo Mestre, Mista sobre tela, 110x90 V Há alguns anos, na estrada rumo a Taquaritinga do Norte, outra centelha: um céu sem nuvens, todo em um azul inexplicável, simultaneamente pálido e vibrante, abria-se aos olhos de Bozó prenunciando o entardecer. Esse elemento passaria a ser uma das primeiras cores a coincidir com o preto e branco de suas imagens, autorizando um sem-fim de outras, cada qual relacionada a uma lembrança ou sensação que habita a paisagem afetiva de sua memória. VI As pinturas de Bozó Bacamarte exemplificam um universo encantado, humorado e delirante proposto por ele. Suas paisagens agrestes, chaves para outro mundo, são povoadas por figuras equilibristas, contorcionistas, saltitantes. Híbridos de animais, brinquedos, gente e entidades, todos os seres parecem suspensos no ápice de seus gestos dentro das paisagens insólitas propostas pelo artista. A casa da mestra e os bodinhos Pirilim, Mista sobre tela, 2023 VII Na sua etimologia, híbrido vem do grego hybris, significando delírio, sonho, embriaguez, alegria, excesso, equívoco. Bozó Bacamarte propõe uma iconografia prenhe de um imaginário sincrético — demarcado por signos da Jurema Sagrada —, mas também emendado com a aleatoriedade, o trocadilho e as superstições populares. É uma alegria delirante dentro de uma rigidez que ainda acena para xilogravura, que tanto lhe é afeita. É um excesso sonhado com rigor. É o oposto de um equívoco: as imagens inventadas por Bozó são o ponto de encontro de seus sentidos outrora dilatados em epifania. *Texto publicado na exposição Seis Paisagens, com curadoria de Guilherme Moraes, em cartaz em julho de 2023 na Galeria Marco Zero, no Recife.

  • AORUAURA - PRELÚDIOS DA IMAGEM #02

    aoruaura (Recife, PE, 1997), artista multimídia e performer, conversa com Guilherme Moraes, curador da Propágulo, sobre suas últimas trajetórias e produções artísticas. Como as relações de seu corpo com alteridades foram se metamorfoseando ao longo do tempo? Que comunicações são possíveis através do toque, da transposição, da contaminação e da dissolução? Quais desejos permanecem latentes em sua poética? A pesquisa de aoruaura se configura enquanto constante busca por novas maneiras de outrar-se e, assim, fazendo do contato, busca infinita e de desfecho sempre impossível, forma de aprendizado. Prelúdios da Imagem é uma série de vídeos realizada pela Propágulo com o objetivo de expandir debates e conversas com diferentes agentes da cadeia artística. A primeira temporada conta com 3 episódios, nos quais participam Mitsy Queiroz, aoruaura e Clara Moreira.

  • PARIDADE DELINEADA — ARTISTAS INDEPENDENTES EM ESPAÇOS COLETIVOS

    O que se revela sobre um ateliê coletivo em duas horas e oito minutos de conversa? E como é que se dá a criação entre pares em meio a um sistema de produção cada vez mais automatizado e individualista? Em conversa registrada na sala 107, no Edifício Criadouro, foi desenvolvida a entrevista com os artistas Eduardo Nóbrega, Xinga e Chacha Barja para compor a segunda parte da série de reportagens sobre o Escadaria - Atelier Coletivo. Neste diálogo com a Propágulo, são expressadas suas indagações enquanto artistas independentes — seja que tipo de papel um ateliê coletivo pode desempenhar na vida de seus membros, seja de qual forma o mesmo contribui para a potencialização e legitimação artística do grupo, estimulando, simultaneamente, as relações de confiança e reciprocidade no microcosmo daqueles que o integram. 5 de junho, às 16h28 Elizabeth Bandeira - Como surgiu o ateliê coletivo? Explica um pouco também sobre o processo de organização de um espaço de criação como o Escadaria — houve dificuldades? Foi harmonioso? Eduardo Nóbrega - Rayana Rayo¹ deu início ao Escadaria em outubro de 2021 e trouxe com ela mais três pessoas, sendo uma delas Amorí², que tá aqui até hoje. No começo, fomos com tudo e pegamos treze, catorze pessoas para trabalhar no espaço e vimos que tava um caos, de certa forma. A gente não tinha muita experiência com coletivo e resolvemos só acolher um monte de artista que tava em uma mesma situação, sempre procurando um lugar pra trabalhar. Hoje em dia está mais orgânico, as pessoas têm preferências para os seus horários. Eu, por exemplo, gosto desse que estamos, das 14h até às 17h, mas já teve diversas danças das cadeiras por aqui. Eduardo Nóbrega Elizabeth Bandeira - O que te trouxe para o Escadaria, Xinga? Xinga - Eu conseguia trabalhar sozinha, mas eram dias mais longos. O processo coletivo é bom, me faz querer ter uma rotina. Vindo pra cá, tenho meus colegas que têm o mesmo entendimento do que é ser artista e de como isso pode ser muitas vezes frustrante. Essa relação é bem saudável e nos tornamos um coletivo forte não só de trabalho, mas de viver muita coisa juntos nesses dois anos. Após concluir um processo de pintura, surge Chacha Barja ³ na mesa onde conversávamos para compartilhar brevemente uma ideia. Chacha Barja - Tava ouvindo vocês falando sobre o quão essa troca é importante, na instiga que aqui também é um lugar de construção, de trabalho e como nossos processos se intercalam. Eu não trabalhava tanto com pintura, ficava em casa e totalmente inseguro com essa técnica. Aí venho aqui e começo a trocar ideias com quem está no ateliê, cria um respaldo de pessoas ao seu redor que lhe dá segurança. Xinga - Agora que Barja chegou, vou só reforçar que quando a gente fala do Escadaria ser um ateliê de artistas do Recife, a gente fala mais do que tá acontecendo no Recife. Até porque Barja é de Belém e morou no Rio por muito tempo, Marlan é de Goiânia e morou por dois anos em São Miguel dos Milagres. É mais sobre quem tá ocupando essa cidade e tem o desejo de estar num coletivo. A gente queria poder dividir a experiência com outros artistas. Por indicação de Amorí, eu entrei no ateliê. Mas acredito que aqui cada um tem o seu processo e, de toda forma, os trabalhos conversam entre si. Tipo, Barja pinta 400 quadros de uma vez, Marlan faz dois bordados ao mesmo tempo, aí tá trabalhando com cabelo e depois com concreto. Eduardo sempre pintando, mas foca só em um projeto… Elizabeth Bandeira - Você tem essa mesma inquietude de trabalhar com vários formatos? Xinga - Eu tô fazendo uma série de dez quadros para serem expostos na ART-PE. O projeto se chama “Processo de segmentação”. Ao invés de dez projetos diferentes, eram dez telas, mas um só projeto. Xinga Eu comecei a entender melhor meu processo depois que passei esse meu ano no ateliê, por exemplo. Eu não faço rascunhos, pinto direto na tela e aprendi a fazer tudo sozinha, inclusive a pintura a óleo. Comecei a pintar como uma demanda econômica de entrar no mercado. Meu processo é outro, eu fazia fanzine com uma pegada punk. Elizabeth Bandeira - É algo bem importante vocês estarem presentes na ART-PE, né? Estão indo como um coletivo mesmo e não representados por uma galeria, certo? Eduardo Nóbrega - Poucos artistas são representados por galerias aqui, mas convertemos essa energia em sermos um espaço independente que consegue coexistir com esse mercado, que é tão valioso quanto. Estamos indo participar da ART-PE igual aos “grandões”, sabe? Xinga - É um movimento de artista para fortalecer artista, de chegar em algum lugar que a gente queria chegar, mas junto. Dá ressentimento ficar sem galeria, sentir que não tem um espaço em Recife que tenha interesse no seu trabalho, ou que não queira lhe representar, porque acha que seu trabalho não vai vender. Nosso dia a dia aqui no coletivo acaba compensando essa frustração, porque é muito massa conviver com outros artistas que têm as mesmas piras e dividem os mesmos medos. Eu acho que tem que falar, inclusive, sobre o que tá acontecendo fora das galerias, o que a galera tá se movimentando pra fazer fora disso, porque ser artista é assistemático. Não é uma forma fácil de viver e ninguém tá fazendo isso porque é fácil, como costumam falar. O Escadaria é uma resistência. Elizabeth Bandeira - O Escadaria é um ateliê coletivo daqui do Recife, mas muitos dos seus artistas atualmente migraram para fora da cidade e ocupam também capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente por causa das propostas profissionais oferecidas. Como vocês enxergam essas oportunidades mais afluentes que circulam no Sudeste? Xinga - A gente fala muito do Sudeste, eu sei, mas é que existem artistas ganhando mais dinheiro lá do que aqui. Penso que o mercado recifense tá meio contra a gente, porque a galera ainda tá mais interessada em valorizar e comprar de artista morto, ou dos mesmos nomes grandes batidos da cidade, que é o que dá status. A burguesia daqui ainda é pouco antenada no circuito contemporâneo. Eduardo - Habla! Xinga - Não tenho vontade de morar em São Paulo. Acho que é uma cidade que engole muito a pessoa. Aqui, a gente tem os momentos de ficar de boa, vir pro ateliê e não pintar se quiser, por exemplo, ir tomar uma cerveja ali perto. Existe algo mais tranquilo onde não é tudo trabalho. Xinga e Eduardo queriam muito comprar um cigarro, e Marlan Cotrim, entrevistada para a primeira parte desta reportagem, deu a opção de passar na Praça do Sebo, ir no Chá Mate Brasília pegar um lanchinho e um maço para o grupo. Xinga pediu um suco misto sem açúcar. Xinga - Penso também em outros caminhos sobre essa questão do Sudeste. Por exemplo, Lu Ferreira⁴. Ele é um artista incrível do Escadaria, que tinha uma situação financeira muito difícil, mas teve uma virada de chave na carreira muito importante. Recentemente, ele foi pra uma residência de três meses em São Paulo muito foda chamada Domo.Damo⁵, que saiu até na Vogue EUA. Ele voltou para Recife com umas cinco encomendas, vai expor em Paris agora e não vendia há anos, sabe? Teve essa virada, e eu não digo que foi por conta do ateliê, mas ele lá na residência fala do Escadaria, saiu uma entrevista em que ele nos menciona. Eduardo Nóbrega - Existem outros caminhos, mas se esses que existem, de galeria, já são difíceis, então imagina os alternativos. O Escadaria pode abrir outras portas e iniciar outros caminhos para além desses. É engraçado porque tem gente que não sabe da existência do ateliê e aí explicamos “ah, fica na rua do Pagode do Didi”. E já rolou inclusive durante o pagode de subir com as pessoas pra cá só pra apresentar o ateliê e aí acabarem comprando um quadro. Subi só pra apresentar e desci com dois mil reais no bolso (risos). Xinga - A gente tá muito feliz com o que tá acontecendo com o ateliê. Passamos no SIC [Sistema de Incentivo à Cultura de Recife] agora, e vamos conseguir uma grana para reformar o andar de baixo. Nosso objetivo como pessoas independentes é não precisar pagar para trabalhar. Como coletivo, nós temos uma força que sozinhos não teríamos. Elizabeth Bandeira - Qual o papel e relevância das redes sociais na vivência de vocês enquanto artistas? Mais do que artistas, vocês também se colocam nessa posição de produtores de conteúdo numa tentativa de ter esse engajamento constante no trabalho? Xinga - Acho que é se colocar. É preciso acreditar no seu trabalho, apesar de tudo. Não ter galeria pra te representar é vender seu peixe o tempo inteiro e produzir constantemente. Não acho que a forma do artista crescer seja pelo Instagram, porque se você virar artista de Instagram isso vira seu trabalho, mais do que ser artista. Pra você vender seu peixe, eu acho que é botar sua cara a tapa no meio da arte, se inscrever em edital, expor sua obra onde der, são várias outras formas para além da rede social. Elizabeth Bandeira - Tem algo muito forte e único nas obras dos dois, como uma marca estilística que reforça uma assinatura própria. Como vocês enxergam os seus próprios trabalhos? Xinga - Eu descobri muito sobre conceitualizar meu trabalho e entendê-lo aqui no Escadaria. Tem coisas que sempre estão presentes na minha tela: os ovos, o raio, as botas, o leite, as cobras, o seio, o fogo, o copo americano. Todos os símbolos que se repetem fazem parte de uma narrativa de relações de poder, sobre corpa, sobre existir de uma forma diferente, outras narrativas de inferno, de outras criaturas que são quase não humanas. Eduardo Nóbrega - Já recebo muitos comentários do tipo “teu trabalho é tua cara” ou “quando eu vejo já sei que é tu” e isso é massa, porque você olha pra trás e vê que só chegou aí por um trabalho de muita construção, pesquisa, desenvolvimento, entre erros e acertos. E nem é erro, é um processo! Hoje eu me sinto muito mais confortável com o meu trabalho por causa do Escadaria. A gente também se deixa influenciar por quem está ao nosso redor. Poxa, olhei o trabalho de Ossy ⁶ ali com a escultura e pensei “tô com vontade de desenvolver algo do tipo também”. Barja retorna à mesa e participa mais uma vez da conversa, mas agora para contar dos seus próprios processos artísticos Chacha Barja - Sou de Belém, aí morei muito tempo no Rio, fui pra São Paulo e agora tô aqui há três anos. Meu processo de pesquisa também está envolvido com essa mudança para Recife. O meu trabalho tem a ver com essa mistura de objetos, de animais, flora, como um acúmulo de coisas, sempre carregando tudo comigo. Nas minhas obras, tem a coisa do abstrato figurativo, os símbolos que sempre se repetem como os adornos da arquitetura, estampas, bordados, recortes que me atravessam dessa mistura de cidades. Eu estava trabalhando muito só e foi muito importante estar com outras pessoas, compartilhar as minhas questões e entender as inseguranças de outros artistas, essas pessoas que estão insistindo no trabalho. Elizabeth Bandeira - Em que sentido estar atuando em um ateliê de criação coletivo te transformou? Eduardo Nóbrega - Eu não saio mais daqui. Posso dizer por agora, porque existe uma comparação na minha profissão de antes do Escadaria e depois. Estando aqui, aconteceram muito mais coisas para mim, muito mais portas abertas do que antes. Xinga - Eu produzi muito desde que cheguei no ateliê, meu trabalho evoluiu. O mundo da arte tem bastante ego e grana envolvidos, então você tem que confiar mesmo no seu trabalho para se colocar como artista. Porque sempre vai ter gente pra perguntar “oxe, e tu é mesmo?” Não é fácil inserir seu trabalho no mercado, mas tem que peitar e dizer que é artista sim. Ainda não sei o quanto meu trabalho pode crescer aqui em Recife, mas sei que ele está crescendo no Escadaria e tá me colocando em espaços que eu não estaria se não fizesse parte desse coletivo. 1 - Mapeada pela revista Propágulo Nº5 , Rayana Rayo é a artista idealizadora do Escadaria. Atualmente é representada pela Galeria Marco Zero. 2 - Amorí é de Ribeirão (1995), município da Zona da Mata Sul de Pernambuco, e reside na cidade do Recife desde 2012. Formada em enfermagem, atua na área desde 2017. Em seus trabalhos toma a experimentação artística como um momento de estar consigo. Explora fluidez e movimento em suas obras, com técnicas diversas que o misturem na arte. 3 - Artista de Belém, município do Pará, mas atuante no Recife, Barja integra o Escadaria Atelier Coletivo, tendo também composto a publicação da Propágulo "Outras Gramáticas" em 2021. 4 - Lu Ferreira é artista de Olinda (PE) e integra o Escadaria Atelier Coletivo. 5 - Lu Ferreira participou do primeiro ciclo de residências da Domo Damo, uma casa de arte brutalista em São Paulo. Com um viés comunitário e é assinado pelo arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha. 6 - Ossy Nascimento, artista trans não binárie de 21 anos, natural de Olinda (PE). Desenvolve trabalhos de tatuagem, pintura, escultura e desenho desde 2020. A pele, a dissidências e a transgressão da imagem tradicional são pontos fundamentais da narrativa.

  • SEMELHANÇA DISSIDENTE NO ESCADARIA ATELIER

    Distante do festejo noturno das sextas-feiras recifenses, no qual a luz amarelada dos postes dão brilho à toada harmoniosa do pandeiro em sintonia com o cavaco no Pagode do Didi, a R. Ulhôa Cintra, no bairro de Santo Antônio, me parecia desconforme naquela tarde de segunda-feira. Não apenas pelo motivo da minha ida, que não combinava com o usual pândego da conhecida roda de samba na localidade, mas por me ver agora à trabalho, na condição de quem está prestes a iniciar uma entrevista. Nesse caso, a conversa traçaria um percurso dilatado, longe de focar em uma única pessoa, mas investigando as condutas e perspectivas de um coletivo de arte — o Escadaria Atelier Coletivo. É no Edifício Douro, um prédio multicolorido de dois andares, que o Escadaria toma forma e ocupa seu espaço na cidade. Fundado em outubro de 2021, é composto atualmente por 14 artistas residentes¹ que atuam majoritariamente no Recife. Estanciavam vespertinos em suas respectivas áreas de trabalho no dia da entrevista Chacha Barja, Marlan Cotrim e Xinga, cada um seguindo sua própria rotina de produção. Rotina intensa e acúmulo de tarefas se tornam a realidade de artistas que, mesmo com o avanço de políticas de democratização e afirmação, e a também inegável força do setor cultural em dialogar e se impôr, ainda se encontram em uma corrida dinâmica em busca de editais e patrocínios, como se tivessem que performar como empresários da suas próprias carreiras. Em uma realidade na qual os problemas e soluções aparentam ser cada vez mais individualistas, é através da contingência daqueles que compõem uma coletividade artística que se pauta meu interesse em observar o desenvolvimento do Escadaria, um espaço que vai se revelando, à medida que desenvolvo esta série de reportagens dividida em três partes, capaz de percorrer caminhos possíveis para um fazer artístico, menos penoso e solitário. Os recortes terrestres suspensos de Marlan Nas várias linguagens visuais realizadas neste espaço-criação coletivo, entre pintura, escultura e gravura, um projeto me chamou atenção. Do lado esquerdo do ateliê, em entremeios têxteis de linhas pretas de algodão bordadas num tule, um corpo pendendo para o lado com fios escorrendo abaixo dessa costura, semelhante ao curso de um rio caudaloso, recebia ainda algumas alterações pelas mãos atentas de Marlan Cotrim. De Goiás, deslocando-se para São Miguel dos Milagres, em Alagoas, onde morou por dois anos, a artista chegou ao Escadaria Ateliê ainda no começo de 2023. Suas obras em costura, que se caracterizam como mapas topográficos, refletindo o corpo como fronteira e a pele como litoral, foram influenciadas também pela pesquisa visual que se tornou o período de residência na cidade alagoana. “A natureza impera por lá. Eu morava a poucos metros da praia e é aquela coisa de ver cobra e cavalo no meio do caminho, de não precisar usar muita roupa — só a parte de baixo e chinelo”, recorda. “Foi aí que dei atenção a essa técnica para a repetição da linha, e comecei a estudar o movimento da luz e como ela vai bater de um lado para eu conseguir dar esse efeito de onda”. Em processo de desenvolvimento para ser exibida à época na exposição Seis Paisagens², “Forró de um lado só” é mais uma das diversas investigações têxteis que trazem à tona a sua linha de pesquisa: a relação do corpo, pele e território, todos interconectados por esses contornos terrenos capazes de suspensão. Vinda dos estudos com a dança desde os seus oito anos de idade, onde a coreografia da intenção converge por fim na encantaria do movimento, Marlan transborda em si o fascínio pelo corpo. Enquanto conversamos, percebo esse interesse se materializando na maneira como ela se vestia naquela tarde, seja o brinco prateado no formato de uma face pendurado em sua orelha, o anel decorado com um olho aberto ornando seu dedo médio, e até uma uma tatuagem vermelha de uma cobra na sua mão esquerda, que me remeteu à maleabilidade do corpo daquele réptil ali representado. Fios e mais fios de cabelo costurados em um tule no canto direito de um suporte metálico na sua área de trabalho também fazem parte desse imaginário criado sobre o corpo. Iniciada no final do ano de 2022, a pesquisa com cabelo se provou tocante para Marlan, apesar de ser um material difícil de se manusear com a agulha. “Esse trabalho tem muito de eu sempre querer ter cabelo grande desde criança. Eu sou filho de pastor, então é aquela coisa de sempre ouvir ʽcorta esse cabelo’, que marca muito minha infância”, enfatiza. “Cabelo traz à memória essa resistência do tempo, ele perdurando em mim anos em desobediência”. Dou ainda algumas voltas pelo ateliê do Escadaria, meio sem jeito de subitamente me aproximar de mais alguém para uma conversa que possa tomar tempo de trabalho, mas, antes de me acomodar na rota do acanhamento, sou movida pela chegada enérgica de mais um artista. Alto, usando um notório mullet como corte de cabelo e levemente esbaforido da subida dos lances de escada com sua bike ao lado, surgia Eduardo Nóbrega, que logo se juntou à mesa onde estava Xinga. Os dois juntos, conversando em uma harmoniosa fofocagem de amigos, me fizeram pensar que ali seria um bom caminho, ou ao menos um mais fluido, para desenvolver a pauta sobre esse espaço de arte desenvolvido em coletivo. De frente para os dois, começamos a traçar uma conversa sobre o início do Escadaria Ateliê, o funcionamento interno e os perrengues de uma iniciativa desenvolvida em conjunto, além de opiniões sobre a cena artística pernambucana e o porquê de se criar entre pares. ¹ O Escadaria é formado por Amorí, Aoruaura, Chacha Barja, Cigana, Danielly Guerra, Eduardo Nóbrega, Fefa Lins, Geoneide Brandão, Joana Liberal, Lu Ferreira, Luiza Morgado, Marlan Cotrim, Mirela Rodrigues, Ossy Nascimento, Rayana Rayo e Xinga. ² Exposição em cartaz na Galeria Marco Zero, “Seis Paisagens” é um experimento curatorial que reúne diferentes exposições individuais desenvolvidas por Guilherme Moraes a partir do trabalho dos artistas Bozó Bacamarte, Bruno Faria, David Alfonso, Ianah, Rayana Rayo e a entrevistada dessa primeira parte da série de reportagens, Marlan Cotrim.

  • ENTREVISTA COM MATHEUSA DOS SANTOS

    Na revista Propágulo 8.2, a artista conversa com o educativo da Galeria Janete Costa sobre sua performance 'Lanchão' e o racismo recreativo no meio digital Cerca de duas semanas após a abertura da exposição "A Beleza da Lagoa É Sempre Alguém", o educativo da Galeria Janete Costa tomou a iniciativa de entrevistar algumas das artistas presentes na mostra. A escolha por matheusa dos santos e Nara Gual aconteceu a partir do diagnóstico de que havia um maior desafio na mediação realizada entre o trabalho das respectivas artistas e o público visitante. Coincidentemente, Marcela Dias deslocara-se até o equipamento cultural para intervir em sua arquitetura a partir de seu trabalho no mesmo dia em que o educativo se encontrava reunido com matheusa. A instituição tivera, em um passado recente, o cargo de coordenação de educativo. Contudo, naquele momento, a função era assumida por Carlito Person, gestor do espaço até julho de 2022. Os demais educadores da Galeria Janete Costa são estagiários, sendo eles estudantes do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Pernambuco (Alexandre Vitor, Igor Souza, Francival Pereira (Franci), Rômulo Jackson e Ruana Mendes) e do Curso Técnico em Artes Visuais do Instituto Federal de Pernambuco (Maya Amapô). O trio de conversas, por serem gravadas, tornou-se um rico material para este ciclo de pesquisa, visto que não somente mapeia a mostra em processo, como também traz à tona os repertórios das artistas e, principalmente, dos educadores transpostos em seus comentários, questionamentos e interpretações. matheusa dos santos - Eu comecei a fazer "Lanchão" observando o meme como gênero textual dentro da poesia. Sendo alguém que escreve online, me incomoda como, para algumas pessoas conseguirem uma plataforma na internet, isso geralmente acontece de uma forma "terceirizada". Tipo: eu gravo um vídeo que não é pra ser humorístico e aí alguma pessoa - usualmente dentro da cisgeneridade e de um padrão de branquitude - faz uma página no Twitter ou no Instagram a partir do conteúdo. Foi assim que um cara criou um perfil no Twitter chamado "Acervo Ygona Moura' e começou a colocar vídeos dela que não eram de fato humorísticos. Foi encontrada uma graça por causa da forma que o corpo dela tinha. Ela era uma pessoa gorda, tinha problemas respiratórios, estava em situação de vulnerabilidade e isso começou a se tornar a parte cômica do conteúdo que ela produzia. Eu ficava observando isso com amigos que também trabalham com meme, e a gente ficava pensando "Qual é o fim que isso toma?". Tal hora ela morreu, e eu, que ainda não escrevia em público, escrevi um texto sobre essa morte de Ygona. Fiz como uma forma de processar pra mim mesma questões sobre esse problema da imagem, do artista que vira um produto a partir do seu corpo. Com o texto pronto, uma amiga minha, que na época era do Saquinho de Lixo? falou "Uai, posta na internet!". Ela compartilhou e esse texto chegou em muitas pessoas. Eu nunca tinha passado por essa experiência de ter um texto lido por muita gente. Foram muitas pessoas com a demarcação de homem gay branco que leram esse texto. Fiquei bem mal com isso. Na real, senti que o que estava acontecendo comigo era próximo do que aconteceu com a Ygona. Não queria virar um produto, sempre fui uma pessoa bastante tímida, na minha. Fiquei com esse incômodo e comecei a pensar em alguma forma de solucionar isso no íntimo. Por isso, pensei em despachar alguma coisa na encruzilhada para Ygona. E, como no texto eu falava sobre hambúrguer, pensei em despachar aquelas McBoxes do McDonald's, sabe? Ela primeiro se chamava "Ebó para Ygona", só que, conversando com um amigo, toda hora eu falava que queria fazer um lanchão, queria despachar um lanchão, e ele sugeriu que o trabalho se chamasse simplesmente "Lanchão, ao invés de ter essa marcação explícita do ebó, do ritual. Fiz na encruzilhada da minha casa, depois, já na forma da uma estrela, naquele McDonald's da Avenida Agamenon [Magalhães], o primeiro de Recife - na época eu estava pensando nesse trabalho também como uma forma de ativação urbana, porque geralmente os McDonald's são implantados em desertos alimentares. Depois, fiz o trabalho na casa de um amigo em Fortaleza e, nessa casa, a gente inseriu as velas. Então, não montei mais até chegar aqui na galeria. Nessa de agora fiquei preocupada sobre como fazer isso com pessoas que não conheço. Novamente recorri ao íntimo: fui criada dentro de Santo Daime, um ritual musicado. Essas músicas são coisas que convivo desde a adolescência, e tem esse hino específico dessa chamada de São Miguel e Ogum das Matas, que tem esse jogo de palavras que está na parede. Acho que a última coisa que decidi fazer foi acrescentar o ketchup, que é uma interação com o texto do André Lepecki sobre coreografias e coreopolíticas para debater sobre o comportamento e o movimento dentro de museus, espaços de arte e escolas, porque existem acordos de convivência que são coreografias, né? A gente não pode falar alto, não pode correr, não pode comer, não pode sujar, porque são prédios de uso institucional. Pensei no que significa, para um corpo como o meu, ter autorização de sujar, de entrar nesses espaços livremente e quebrar essa institucionalidade, nem que seja por alguns segundos. Fotos: Marlon Diego Alexandre Vitor - Achei fantástico quando você levantou logo no início essa questão de que geralmente são pessoas periféricas e pretas que são colocadas como um meme, vejo muito isso acontecendo também nas figurinhas de WhatsApp. MS - Sim, o termo para isso é racismo recreativo. É uma forma de agressão através do humor, né? Através da diversão. Te ouvindo agora, acho que isso também é uma motivação para esse trabalho. O problema não é a pessoa virar um meme, sabe? Não é que eu ache que o meme tem que parar de existir, ou que eu ache que o racismo recreativo vai parar de existir. A Ygona, antes de morrer, estava tentando fazer essa transição de meme para influencer, mas, na real, ela não tava conseguindo. Tem um vídeo ontológico dela em que ela recebe uma cesta de feira. A única vez na qual ela conseguiu trocar a roupagem foi essa, quando ela recebeu uma cesta de hortifrúti, com ovos, tomate, legumes e máscaras de covid. Todo mundo vai ser zoado. A Gretchen já foi zoada na Internet, mas ela, por exemplo, consegue. Tipo, viver um segundo auge depois de virar um meme. Tem aquela outra influencer, a Bota Pó, que é uma menina trans, menina novinha, mas ela é uma menina magérrima e tem uma passabilidade bafo. E ela tem conseguido através do meme se tornar uma influenciadora. Lógico, é um trabalho sério, com o qual ela paga tratamento de saúde da família, várias coisas. Não estou dizendo que ela não está no corre, mas é clara a diferença da facilidade de navegação que um corpo pode ter e outro não. E aí não é uma dificuldade uniforme. Não é como se a Bota Pó não tivesse sob um estado de marginalização, mas existem códigos, né? Estava conversando com uma amiga esses tempos, que é artista também, a Walla, uma travesti lá de Minas que agora tá no Rio, e a gente tava falando justamente sobre isso, sobre como às vezes você ser alguém que sabe falar, mesmo você não sendo uma pessoa cisgênera, mesmo você não sendo uma pessoa branca, se você tem lábia, você tem mais chance hackear e chegar, né? Agora, se você não tem essa coisa da linguística desenvolvida, é bem mais difícil. E eu acho que a Ygona não tinha isso. Ela morreu de tuberculose, então a própria fala dela era marcada por catarro, por essa dificuldade de respirar. Mesmo no silêncio, em um vídeo dela, você ouve a sua respiração pesada. Pelo menos pra mim, que sou sensível e chorona, não é tão prazeroso de ver, é uma coisa que me deixa meio mal. Um corpo que estava agonizando na frente de todo mundo, sendo seguido por cem mil pessoas. São essas coisas que me levaram a fazer esse trabalho, não sei se vou fazer novamente, mas eu trato ele muito mais como uma linha de pesquisa do que como uma obra. É uma escultura efêmera, a coisa do outro, do hambúrguer e tal, uma escultura que surge ali, depois some, consumida, e isso me permite montar ela sempre. Mas agora quero dar um descanso. Fiquei bem mal depois dessa montagem, na hora em que estavam várias pessoas ao meu redor, meio que meu olhinho encheu de lágrima. Cara, me senti meio cercada. A entrevista completa já está disponível na revista Propágulo 8.2! Garanta a sua e fique por dentro dessa conversa que trouxe à tona o repertório de matheusa dos santos e demais artistas mapeados na nova edição da revista.

  • SINFONIA DO EXCESSO NA PINTURA DE LAURA PASCOAL

    A artista Laura Pascoal foi convidada para desenvolver “Cuidado, Frágil”, múltiplo de arte que inaugura o novo Clube de Assinantes da Propágulo. Em conversa com Manoela Freire, a artista divide um pouco sobre seu processo de criação, que oscila entre planejamento e intuição, e entre excesso e harmonia. Manoela Freire - Laura, conta um pouco sobre você e o seu trabalho, e principalmente de que forma você é atravessada pela sua poética ao longo da sua trajetória. Laura Pascoal - Eu tenho 27 anos, sou uma artista plástica baiana, mas na verdade me considero mais pernambucana. Apesar de ter me mudado por longos períodos, estou no Recife há nove anos, e há oito trabalho com pintura. Fiz faculdade de licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, pouco antes disso, já havia começado a trabalhar de fato com pintura. Desde muito nova, pintar é muito natural para mim. Pintar sempre foi uma certeza, como se eu soubesse que um dia estaria trabalhando com pintura e com arte. Tiveram momentos nos quais pensei que “eu”, Laura, e “eu”, pintora, fossem instâncias separadas, como se a minha pintura andasse apenas em paralelo a mim. Mas, na verdade, quando você trabalha com isso há um tempo, isso acaba se entrelaçando no que você é. Sou uma pessoa que, cozinhando, adoro colocar várias coisas, não consigo fazer só um macarrão ao alho e óleo. Tenho que colocar a cenoura, a cebola, o milho, o coentro, o talo de coentro... A minha pintura é um pouco atravessada por esse pensamento, minhas telas têm um certo exagero. Penso em elementos que se complementam e se conjugam em sua heterogeneidade. Se for gostoso e prudente colocar um adesivo, um tom metálico, algumas cores e perceber que essa união é, de alguma forma, harmônica — assim como na cozinha ou como me porto em tantos âmbitos da vida —, eu faço. Meu processo artístico é onde consigo elaborar sobre certas coisas que preciso pôr pra fora, pois preciso fazer algo com o que transborda dentro de mim. MF - Adorei essa associação que você fez com a cozinha, acabou calhando um pouco com a próxima pergunta que vou te fazer, sobre como alguns elementos são recorrentes no seu fazer artístico e acabam criando uma identidade própria para ele. Como o exagero, que você mencionou, acontece no seu processo criativo? LP - Acredito que esse exagero está muito ligado à minha maneira de pensar, junto a um processo intuitivo. Coloco uma cor e sinto que surge a necessidade talvez de pôr outra. É como se fosse o tempero. Talvez, com essas três cores juntas, as coisas funcionem melhor. Às vezes, percebo que não, que vai ficar mais harmônico se tiver preto e branco na tela. Vai se dando um diálogo instintivo. Sinto que o meu trabalho está sempre nessa linha perigosa em que, por um triz, as coisas podem ficar caóticas. Essa é a parte engraçada, ou piada do negócio: é muito difícil incorporar tantos elementos sem que eles não fiquem chiando, né? Eles precisam ter essa conversa, e é aí onde eu entro. MF - Você também racionaliza sobre esse processo ou o fluxo acontece independente de planejamento? LP - Existe o aspecto intuitivo, mas eu racionalizo demais! Faço esboços, paquero a tela, passo um bom tempo olhando para ela. Tento antever as cores que inicialmente pretendo colocar, quais são os diálogos entre os desenhos e os enquadramentos que vou fazer. A partir do processo, começo a colocar cada elemento na tela e vou percebendo quais são as suas novas necessidades: se as cores estão muito quentes, o que posso colocar pra tentar suavizar, se talvez conseguiria incorporar uma cor mais fria, qual contraste posso fazer… Aí a pintura segue um fluxo próprio. MF - Até agora a gente conversou mais sobre pintura. Você foca a maior parte da sua produção nela, certo? Há também outras linguagens que você gosta de experimentar? LP - Tem sim, me atrai bastante tudo em que posso utilizar as minhas mãos. Por mais que sejam diferentes, esses processos acabam sendo adicionados à minha pintura. Curto muito trabalhar com cerâmica e com gravura, por exemplo. Numa época, pintava em outros suportes, como blusas e bolsas que vendia. Hoje em dia meu trabalho também está ligado às estampas: nos últimos anos fiz colaborações com a C&A e a Colcci. As texturas, o manuseio, as cores e a aplicação delas, tudo se conecta. MF - Legal como as diferentes formas de arte vão te influenciando! E pensando agora nos desenvolvimento da obra junto à Propágulo, como foi a dinâmica de criação para uma tela que em algum momento se desdobraria numa arte serigrafada? O jeito de pensar a construção dela mudou? LP - A imagem desse múltiplo me rondava há um tempo e eu ainda não tinha feito uma tela, mas sentia que em algum momento a necessidade de pintar essa imagem iria chegar. Às vezes acontece isso comigo, de ficar com uma imagem na cabeça e algum momento acabar colocando pra fora em uma oportunidade que aparece. O convite da Propágulo uniu o útil ao agradável. Fiz questão que fosse um trabalho que partisse para a pintura, falei “Olha, gente, sei que é pra uma serigrafia, mas quero fazer em tela”. E esses moldes para serigrafar acabaram norteando certos elementos, como a quantidade de cores. Queria que tivesse coesão com a técnica final, e por isso tentei fazer uma redução dos tons na própria pintura. Foi interessante trabalhar com essa predefinição. MF - E sobre a concepção poética? Conta um pouco das tuas referências e influências atuais também, e como elas estão presentes no múltiplo. LP - No meu trabalho, desde sempre, pequenos elementos me apetecem e me atraem. Diversos lugares acabam sendo contemplados pra mim como uma referência daquilo que posso adicionar. Tenho referências de cerâmica, de tipografias, de letreiros que vejo na cidade, de filetes de caminhão que vejo na BR, de alguns filmes assistidos... Especificamente, a partir desse múltiplo, que é um autorretrato, tenho começado a voltar minha poética para aquilo que me atravessa, para aquilo que pulsa dentro em mim. Assine e receba! O múltiplo de arte “Cuidado, Frágil”, de Laura Pascoal, foi realizado em serigrafia de onze cores impressas sobre papel Canson A2 200g livre de ácidos. As artes são assinadas e numeradas pela artista e contam com certificado de autenticidade. Com novos planos e modalidades, o Clube de Assinantes da Propágulo é o ponto de encontro para quem busca colecionar e se aprofundar sobre arte. Fazendo parte deste programa, você recebe nossas revistas, livros e múltiplos de arte por um preço especial, além de garantir uma série de benefícios, como gratuidade em cursos, acessos exclusivos ao editorial do site, notícias antecipadas dos nossos lançamentos, e muito mais!

  • AFTA, o podcast da Propágulo

    Se você ainda não conhece o AFTA, separamos aqui os nossos espisódios já produzidos e publicados no Spotify para você ouvir. Através de rodas de conversa, aqui dialogamos sobre as cadeias produtivas que atravessam as artes visuais, com diferentes entrevistados a cada episódio! AFTA (EPISÓDIO ESPECIAL) - CONTRA LUZ - GABRIEL FURMIGA Que encontros podem surgir quando assumimos o percurso errante e atento enquanto maneira de cartografia? Através da residência do artista Gabriel Furmiga na Propágulo, foi produzida uma série de conteúdos, entre vídeos, livro digital e este podcast, comenta o processo de acompanhamento do artista no espaço. Procurando borrar imagem e objeto, assim como explorando diferentes visibilidades e temporalidades através da experimentação plástica e performática, apresenta-se "Contra Luz", um caleidoscópio de processos desdobrados através desta parceria. TEMPORADA 4 EP. 03 - BRUNA RAFAELLA FERRER Para este episódio do AFTA, convidamos Bruna Rafaella Ferrer, artista, doutura em Design pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenadora artística do grupo de desenho e performance de modelo vivo Risco! e idealizadora do Guia Comum do Centro do Recife. Atualmente está enquanto coordenadora pedagógica do Centro Caixa Cultural em Recife. EP. 02 - NATHÁLIA VIEIRA Para este episódio do AFTA, convidamos Nathália Vieira, coordenadora do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM), apresentadora do Podcast Gancho, produtora cultural e curadora. EP. 01 - BIA LIMA Para este episódio do AFTA, convidamos Bia Lima, arte-educadora que foi uma das artistas presentes na Propágulo Nº 3. TEMPORADA 3 EP. 02 - IANAH Para este episódio do AFTA, convidamos Ianah Maia, artista visual que está presente na Propágulo Nº 5, para conversar conosco sobre seu processo criativo. EP. 01 - CLARA MOREIRA Para este episódio do AFTA, convidamos Clara Moreira, artista de capa da Propágulo Nº 5, para conversar conosco sobre seu processo criativo um ano após a nossa primeira entrevista. TEMPORADA 2 EP. 04 - LIBRA Neste episódio, Rod Leão conversa com Libra, artista, DJ e pesquisadora audiovisual. EP. 03 - REBEKA MONITA Neste episódio, Nathália Sonatti conversa com Rebeka Monita, produtora cultural, pesquisadora e gerente de programação do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM). EP. 02 - MARIANNA MELO Neste episódio, Heitor Moreira conversa com Marianna Melo, expógrafa, montadora de exposição e curadora. EP. 01 - ARIANA NUALA Neste episódio, Guilherme Moraes conversa com Ariana Nuala, curadora, educadora e articuladora das artes visuais.

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